Jazz no Parque (Barreiro) 2019

No palco do maior parque da cidade do Barreiro decorreu o primeiro Jazz no Parque: sete concertos, dois trios internacionais, quatro outros com o melhor do Jazz nacional e ainda a Big Band da Escola de Jazz do Barreiro, três dias, de sexta a domingo, 28 a 30 de Junho.

A escolha dos grupos portugueses foi acertada. No primeiro dia o novo Sexteto de Jazz de Lisboa, um grupo reunido para celebrar o sexteto dos anos 80 e que conta agora com Ricardo Toscano em substituição do saudoso Jorge Reis, e ainda Mário Laginha, Tomás Pimentel, Edgar Caramelo, Mário Barreiros, da formação original, e Francisco Brito em substituição de Pedro Barreiros.
Para o segundo dia o director, Jorge Moniz, programou o celebrado Quarteto de Ricardo Toscano e o para o último dia o quarteto do jovem Eduardo Cardinho, que tem João Barradas no acordeão, e o power trio de tuba, guitarra e bateria, os TGB de Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão.
Os grupos internacionais, Bobo Stenson Trio e Jacob Bro Trio, merecem-me uma observação, sendo que apenas assisti ao concerto de Jacob Bro. Ambos os grupos convidados são trios de reputação internacional bem firmada e sobre a qualidade da música eu não tenho nada a dizer. Apenas, pela sua natureza de trios, e aqueles trios em particular, de natureza mais «intimista», eu diria que o espaço de um jardim aberto, não oferece ao público a atenção que eles merecem. Um risco, diria, que a direcção correu, e diria que, dadas as circunstâncias, o público até se comportou bastante bem no(s) concerto(s) a que assisti.

Jacob Bro Trio
Dos dois projectos (dos dois discos editados, ambos na ECM) de 2018 de Jacob Bro, este, que veio ao Barreiro, com o proactivo Joey Baron – «Bay of Rainbows» - é o mais estimulante (e também o mais apropriado ao espaço), proporcionando bons momentos de diálogo entre o trio. Impulsivo e anguloso Joey Baron, criativo e elegante Thomas Morgan, e Jacob Bro, mais eléctrico do que lhe conhecemos nas outras passagens por Lisboa, aventurando-se por vezes por áreas que pertencem a Bill Frisell ou mergulhando na guitarra rock, mais impressivo e menos silente.
Um bom concerto.

Ricardo Toscano Quarteto
A noite terminou com o Quarteto de Ricardo Toscano, os quatro jovens estrelas do Jazz nacional. Quase todos originais do saxofonista, retirados do disco editado em 2018 pela Clean Feed, o grupo não precisou de muito para ganhar a audiência. A estrela da noite foi, diria, o jovem João Pedro Coelho, beneficiando de uma boa acústica, que revelou aquilo que muitas vezes apenas nos é permitido adivinhar: ele é um dos poucos pianistas nacionais de Jazz sem influências da escola clássica visíveis, com peso nos dedos e imaginação que remetem para Bud Powell e McCoy Tyner. Mas todo o quarteto fantástico esteve sempre bem, numa forma onde são únicos.
O concerto terminou com o clássico de Herbie Hancock, «The Sorcerer», e num brinde suplementar Ricardo Toscano ofereceu-nos um sublime «Dear Lord», uma homenagem ao seu mentor espiritual e influência maior, John Coltrane.

Um bom arranque para um novo festival a quem desejamos muito sucesso.

Jazz no Parque (Barreiro)
Director: Jorge Moniz

Leonel Santos